Olá, pessoas. Estou aqui mais uma vez! Hoje vou
falar de um livro muito especial para mim. Na verdade, vou falar de uma poeta
muito especial para mim. Desde meu primeiro semestre no curso de Letras, me
apaixonei pela literatura grega antiga. Conheci Safo na aula que minha atual
orientadora ministrava no primeiro semestre. Foi o primeiro texto que vi
grafado no alfabeto grego e foi amor à primeira vista. Hoje Safo é o tema da
minha Iniciação Científica.
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Uma representação de Safo na pintura - Autor Desconhecido |
Vou falar um pouquinho dela agora. Safo nasceu por volta de 630 a. C. na cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos, ela compunha poemas nos moldes do gênero lírico. É só isso que sabemos de concreto sobre sua vida (eu não disse que falaria um pouquinho? – piadinha ruim). Tudo mais que se fala sobre Safo são suposições, conclusões tiradas a partir da leitura de seus poemas, e isso nem sempre é legal. Alguns poemas de Safo, por exemplo, têm como tema a paixão por mulheres (chamamos os poemas com essa temática de homoeróticos), esses poemas foram lidos por muito tempo como “relatos poéticos” da vida amorosa de Safo, a palavra lésbica foi criada em referência a isso, inclusive. Mas não é bem assim! Não temos como saber se Safo tinha ou não relações com mulheres, até porque os gregos encaravam isso de uma forma bem diferente da nossa. Além disso, Fernando Pessoa já dizia que “o poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ que chega a fingir que é dor/ a dor que deveras sente”. Como podemos saber, sem quase nenhuma informação biográfica, se Safo estava mesmo sentindo o que compôs ou se estava apenas “fingindo”, como boa poeta que era? Eu, como estudiosa e apaixonada, acho a dúvida muito mais bonita que a certeza.
A
obra de Safo chegou aos dias de hoje num estado bastante fragmentário. Vários
poemas se perderam e, dos poucos que nos restaram, apenas um está completo. Por
isso, trabalhar com a poesia de Safo é um grande desafio. Vou indicar aqui a
tradução de uma moça muito bacana (ela até autografou o meu livro!), seu nome é
Giuliana Ragusa. Ela é professora na área de Estudos Clássicos na USP
(Universidade de São Paulo) e especialista em lírica grega. A tradução de
Ragusa é muito cuidadosa e preocupada em manter o sentido do poema original.
Ela também se isenta de interpretações externas ao texto. Seu livro com
traduções de Safo, Hino a Afrodite e
outros poemas, está organizado por temas (cada tema tem uma pequena
introdução) e traz uma introdução bem mais esclarecedora do que esse resumão
que fiz aqui. Para quem quer ter um contato mais próximo da obra de Safo, esse
livro é um ótimo começo.
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Hino a Afrodite e outros poemas |
Por que ler? É empoderador! Como mulher, conhecer Safo me trouxe uma consciência muito maior de que posso fazer o que eu quiser. E é sempre bom prestigiar o trabalho de outras mulheres que se esforçaram tanto para serem o que são. Traduzir poesia grega como Giuliana Ragusa fez não é para qualquer um. Além disso, é muito interessante perceber que, apesar de terem sido compostas há mais de dois mil e quinhentos anos, esses poemas ainda podem nos tocar. Os tempos são outros, mas os sentimentos são os mesmos, e é isso que torna a arte imortal.
O
livro: Safo de Lesbos, Hino a
Afrodite e outros poemas. Organização
e tradução de Giuliana Ragusa. São Paulo: Hedra, 2011.
Quanto? Na
faixa de 22 reais.