Eu queria escrever um texto sobre minha formatura e nada saía. Eu enfim me tornar jornalista, a louca que escolheu uma das profissões mais perigosas. A verdade é que eu nunca parei pra pensar sobre isso, confesso que pensando em como escrever eu me lembrei do post da Thayse do Brilho de Aluguel onde ela dizia que ela sempre soube soube que ia se tornar jornalista, foi a mesma coisa comigo.
Quando criança eu abria as revistas e fingia que lia algo e observava a quantidade que havia de palavras ali. Com o tempo eu fui colecionando as mais diversas revistas e lendo cada vez mais sobre assuntos que eu achava chato apenas por gostar de folhear uma revista ou mesmo um jornal.
O tempo foi passando e as minhas leituras aumentando, o dinheiro gasto com revistas então. Eu passei pela falecida revista Genius, Atrevidinha, Capricho, Época entre tantas outras, vi meu lado escritora se fortalecer. Comecei a ler mais e mais livros e quando dei por mim tinha uma paixão tanto por best sellers, quanto leitura juvenil e também clássicos.
Aí veio a escolha do vestibular, aquela pressão dos amigos (sim, dos amigos) para escolher algo que não fosse jornalismo, já que era um absurdo eu fazer algo que não valia meu diploma. Eu como uma aluna bem regular fui taxada de louca quando disse que eu queria a PUC ou Mackenzie. Afinal, como eu conseguiria sendo tão regular? Bom, eu não sei mas passei com bolsa integral pelo ProUni. E então veio os comentários de que eu era privilegiada e tive que aprender a responder. Responder que eu não tinha dinheiro, que vivia no vermelho para pegar todos os dias o trem e metrô que me levavam pra lá, que pagar qualquer que fosse a faculdade estava fora de cogitação. Tive que enfrentar muitas pessoas que eu acreditava que eram minhas amigas me falando isso.
Fui jogada em um universo onde as pessoas tem dinheiro, onde entrar na PUC era a última opção porque estudaram a vida inteira em particular e deveriam ir para a pública e eu no caminho inverso. Todos ao meu redor já haviam visto os mais diversos filmes cults e eu vendo tudo pela primeira vez na faculdade. Eu não fazia ideia do que era direita e esquerda e descobri na prática, ao trabalhar em uma campanha presidencial para um partido de direita e ir contra as minhas convicções.
Me (re)descobri feminista. Eu sempre falei frases como "o que eu faço é só da minha conta", "se fosse homem vocês não estariam julgando" e eu não fazia ideia de que eu estava certa. O feminismo me viu num abismo e ao invés de me empurrar segurou minha mão para descer em segurança. Passei a me amar, amar meu corpo, meu cérebro e até meus defeitos. Tive que aprender a perder a vergonha de falar que eu amo moda e política, conseguir explicar uma coisa dessas fazia o cérebro das pessoas entrar em tilti permanente.
Foram 4 anos difíceis, foi falar de moda inclusiva no blog para uma matéria, criar uma revista de arte feminista, criar sozinha uma revista de moda unissex e depois mexer em php para criar um site informativo sobre moda para cadeirantes. Foi através das palavras que eu guiei meu caminho, que mostrei que a moda é mais que futilidade e que faz parte do seu próprio eu.
Queria ter me jogado mais na faculdade, participado de várias coisas mas por acordar muitas vezes as 5h para ir para aula tudo se tornava impossível. Não tive dinheiro pra mudar pra perto da faculdade nem para sair da casa dos meus pais, mas eu aprendi muita coisa. Aprendi a ser mais humana, a lidar com gente que compra o mundo com dinheiro e que eu não precisava de dinheiro pra ter a melhor educação possível.
Foram noites dormindo mal, dormindo 3h, 2h por noite... Ninguém disse que era fácil, mas confesso que foi mais difícil do que pensei. Se eu pudesse voltava o tempo e faria tudo igual, porque sei que se eu tivesse feito tudo eu não teria sido nada. Acabou. Formei.